sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Diário de Labuta


Trabalhar nunca foi fácil. Porém se não tivesse utilidade já teria caído de moda faz tempo. Infelizmente (ou felizmente) quase o mundo inteiro constitui o chamado mercado de trabalho. E foi apenas esse ano que eu fui conhecer os sabores e dissabores de ser mais uma a entrar nessa arapuca. Agora, gostaria de compartilhar com você a minha vida de assalariada...

Meu dia começa com um ruído estranho. É o meu celular vibrando em cima de alguma tralha ao lado da minha cama. Levanto, me arrumo, vou para o ponto de ônibus. No ponto de ônibus já começam os absurdos do dia, cada vez mais diversos e estranhos. Já presenciei uma velha catequizando as pessoas, um cara catequizando os meus peitos (que peitos?) e até cowboys da nossa vizinha, Argentina.

Eu trabalho numa agência bancária. Ok, detesto fazer propaganda, principalmente de coisa que não presta, mas pra deixar o problema bem explícito, identifico logo: trabalho na CAIXA. E lá é que é loucura, os figurões do ponto de ônibus ficam no chinelo com os figurões que aparecem lá no banco! Bolsa família, bolsa escola, PIS, seguro-desemprego, FGTS, poupança, conta corrente, transfêrencia, depósito, DOC, saque. Gordo, magro, sujo, FEDIDO, descabelados, desdentados, surdos, cegos, lentos, analfabetos. Aparece gente de tudo quanto é jeito, querendo fazer tudo quanto é coisa. E minha paciência tem que ser a maior do MUNDO. Sempre gentil, sorrindo. Quatro horas direto, não é uma grande carga horária... Porém os quinze primeiros dias do mês é pior que malhar cinco horas sem intervalo. Sem intervalo mesmo, não dá nem tempo de ir ao banheiro dar uma mijadinha. A fila do caixa eletrônico comporta cinquenta pessoas e o caixa eletrônico apenas seis por vez. E a culpa é sempre do funcionário mais próximo.

Pior ainda foi o dia que um velho mandou minha colega tomar no cú. No cú. Mesmo. A ofensa só parou quando ela em resposta, disse apenas "VÁ VOCÊ!".

Depois dessa rotininha, e com a barriga a roncar, eu bato meu cartão, dou um tchau para minha chefe. Minha chefe aliás, faz juz aos chefes caricatos de toda empresa. Mal humorada, autoritária, e dotada de um humor negro satânico.

Em frente ao banco fica estacionada uma banquinha de cachorro-quente. O proprietário, Paçoca, me vende um cachorro quente (com uma salsicha extra de cortesia) todos os dias depois do expediente. E enquanto eu alimento as lombrigas, lá vem ele com suas histórias. Mas eu não as escuto, normalmente fico notando quem passa na rua, ou a maneira bizarra como ele consegue ser engraçado. Vesgo, com uma salientíssima pança de chopp, cheio de cabelos brancos e um boné que mal lhe cabe na cabeça ele vive me dizendo que pareço a tal de 'Juliane da novela do Torto'. Não faço idéia de que novela seja.
-Sério, Paçoca?
- Verdade! Você parece muito com ela!
-Mas... ela é tão feia!
-Nãooo, ela é bonita como você!
-Credo, tio! Sai fora! Aquela Juliane é feia e você é um louco! Deixa eu ir que terminei meu cachorro-quente... E marca na minha conta, amanhã te pago o lanche e o chiclete.
-Fica tranquila, você eu deixo. Mas avisa aquela menina do cabelão e a aquela do namorado que tem um Chevette que elas tão me devendo mais de R$ 13,00!
- Beleza!

E lá vou eu pro meu ponto de ônibus. O homem da faixa faz seu culto no canteiro que divide a avenida, em frente ao ponto. Uma música melancólia, falando de salvação. Uma faixa bem grande escrito "JESUS, PRÍNCIPE DA PAZ". E muitos carros, ônibus, fumaça. Um pardieiro completo! Já chega meu ônibus, lá vou eu pra casa.

Estressante, divertido, necessário. Trabalhar pra mim é acima de tudo uma benção, onde é possível aprender muito em um curto espaço de tempo. Trabalho com pessoas, conheço todo tipo de gente, todo tipo de reação. Trabalho ainda para a minha indepência, minha liberdade convertendo meu suor em dinheiro, e meu tempo em puro orgulho de ser adulta.

5 comentários:

Robson Mattjie disse...

Vai. Achou que a vida era só sombra e água fresca.Brincadeira, sempre soube que você é bem esforçada e capaz. Tens um futuro brilhante pela frente e a Academia Brasileira de Letras que nos aguarde, um dia estaremos lá =D

Obrigado pelas palavras e, sabe, acho que estamos no caminho certo, fazendo as coisas certas, sempre, para termos um ótimo futuro, um futuro de prêmios e consagrações. Sonhar alta, palavra de ordem, né.

Saudades das conversas também. Há muito a ser conversado.
Super beijos, queridona. Muitas felicidades pra nós, 2008 é o ano. ;)
Fim da minha faculdade e início da sua... não há dúvidas.

Unknown disse...
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Adih disse...

pois é Jade...
chega uma hora que temos que assumir nossos sonhos e lutar por eles
sabe, gostei muito de ler o seu dia-a-dia
vejo que você é uma pessoa batalhadora como qualquer outra que quer chegar em algum lugar
te desejo mais força e uma boa sorte com tudo o que desejar
as coisas já estão se encaminhando para isso, se é que me entende...
enfim, é isso
ah, é a adna! :)

Adih disse...

poxa...
sério mesmo que vc tá indo?
como? com quem? porque?
acho que o Adriel vai sentir falta...
enfim, vai começar uma nova fase e eu espero que seja melhor do que a que passou!

Helga disse...

Ei, teu profile do orkut falhou.. :)

Desculpe, não me apresentei. Acabei de te achar no último post do Cafa.

Adorei a descrição do teu dia, heheh. Por isso elogio aqui!

Me amarrei especialmente na descrição da chefa: dotada de um humor negro satânico. heheheheh