terça-feira, 10 de julho de 2007

A vida da menina


Se lhe perguntassem meses antes o que seria do seu futuro, certamente ela responderia, sem pestanejar, que sua vida fazia parte de um engenhoso futuro muito distante de todas aquelas casas, árvores e pessoas dali. Porém, quanto mais certeza ela exteriorizasse, mais os ventos soprariam contra suas idéias (que por vezes a levavam de encontro a ruína e a dor).
Por ela a vida seria bem mais simples e potencialmente mais justa. Mas, como sempre as pedras no caminho insistiam em trazer-lhe lembranças de que o amargo de crescer nunca iria embora, conformou-se a menina com seu caminho.
Aprendeu o valor da luta e conheceu o sabor de colher os frutos do seu plantio. Bem como sentiu os olhos marejarem quando a geada queimou sua fértil colheita. E jamais, ouça bem, JAMAIS deixou de arar a terra, mesmo quando dela crescesse apenas enfadonhas gramíneas.
Ser forte não era uma questão de personalidade, mas sim de sobrevivência, de uma ação antibiótica. E certamente, dizia a menina, que quanto mais aniversários ela fazia mais paciente se tornava. Afirmava ainda que nunca se arrependeu daqueles erros que todos julgaram grandes, pois ali era onde residia os fragmentos de experiências que constituíam-na.
E se um dia achou-se sozinha, ela soube então que podia contar com ela mesma. Sabia que só era feliz quem conhecia o mistério do tempo. Era quem sabia que não existia passado ou futuro, e sim, o único, presente perpétuo.